quarta-feira, 22 de março de 2017

traços, trecos, troços, trunfos



traços, trecos, troços, trunfos

Que traços, trecos, troços, trunfos levas?
Aonde os leva?
(P) o (R) que carregas tantas malas,
teus miolos ruídos neste tempo esticado?
Miúdos são teus olhos de perspectiva pouca.
Louco temer agora e sempre deflagrado.
Muito bonito tanta poética mascarando sentimentos 
se arrebentando para lá dos dedos se desandando de um carinhoso mancomunar.

Que(m) seduzes senão teu próprio eu acreditando nesses mesmos traços,
trecos, troços, trunfos, tripas e almôndegas?
Almôndegas e mostarda.
Venha cortar meu barato que eu estou te cantando com poros peles, pelos,
arrependimentos e distúrbios positivos.
Uma releitura, um retoque é exatamente o que transforma o texto em literatura.

Porque não teríamos o direito de retocar os momentos
e vida transformar em obra de arte?
O que torna algo em arte é exatamente esta capacidade/possibilidade/permissividade 
de uma pós-leitura, de uma pós-reflexão/análise/modificação?
E a perfeição seja teu conceito de perfeito/não perfeito,
desfeito, anti-feito, neo-feito.

Quem ousaria penetrar meus traços, "trepos", trincos, troncos, trâmites?
Porque tanta vírgula, vaga tormenta, se incrustando
como objetivo no meio do que está cuspindo tanta ordem de (des)ordem?
Que lacunas são estas que se se criando vão nos arremessando contra outros espaços e sempre esta correria em prol de poder engatar a quarta?
E sempre e novamente sempre curvas e mais curvas e sinais vermelhos. Argh!

Que polícia pouca criastes para me censurar?
Quero infringir sinais vermelhos mesmo que Caetano seja cartesiano.
Quero infringir contra-mãos sobretudo as minhas aceitando as dos trecos dos outros
neutros nossos todos.
Não será nesta mesma medida que limitamos os ataques externos a nossos traços,
trecos, tripas, troços, trunfos tão limitados?
E vamos levando fardos cada vez mais "respeitáveis"
O que ergues e negas, 
o que mentes desmente,
diria melhor, decrepita em tantas veias amargas?
Porque são elas tão importantes?
Te bastas?
Bosta, besta, bicha, bunda e outros corolários tipo: Basta!

E pondes, e pondes, e pondo, no arremate,
reencontro o troco,
a única mataria a que se reduz todo esforço.
Forço, flagro, finjo e traço porque nestes dedos, lápis e
lapiseiras não faltaram.
O que fizestes de tanta tinta derramada senão ossos?
Queime-os agora se coragem vos resta,
pois o tardar dos anos vão se tornando poeira
e neste tempo consumes embora creias ainda que algo guardastes.

Desabafe, estou te auscultando.
Não, não precisa falar.
Só quero teu olhar sem palavras
e dicionário não há.
Queria te ver feliz de tudo aquilo que não há em meus trapos,
terços, tripas, tronos, truques.
E se eu fosse tu e se acreditasses nos desenrolares da vida,
algum sorriso ou nó.
Alimente-se do meu pouco pó.
Estou te (me)-nos-amando.
E pronta para sofrer?

No cálculo racional, a porta de saída;
na logística, a escapatória;
na tática, a retirada
e todo este treinamento de abandono de trazos, trecos, tripas e trunfos.
Nervos, para que vos quero?
Porque tanta polícia para vigiar-te?
O que temes em tu mesma que a pulso exterior invade?
O que negas senão teus próprios trunfos,
metade de restos, diabólicos trazos incoéis,
inúteis trecos e uma pá de tronos?
Porque os levas se os nega?
E minha boca úmida do outro lado não foi capaz de gravar tua sentença:
_ "Me liga amanhã?"

Rio de Janeiro
Provavelmente 1990