sábado, 11 de julho de 2015
Performance Tração 200 kg (da série "os 12 trabalhos") por ELEN GRUBER no evento PARTICIPATIÓN: Encuentro Latino Americano de Performance. Junin, Buenos Aires, Argentina. 2015
Elen Gruber
Iteratores participam da performance
Participação de iteratores: Claudio Carrizo, Bia Medeiros e outros
Bia Medeiros e iteratores
Fotos: Robert Peyote Paredes, Claudio Carrizo e Marcelo Barraza.
Iteração, participação e performance
Em que aspectos a arte da performance se diferencia ou pode
se diferenciar das outras possibilidades da arte? Pintura, gravura, escultura,
dança, teatro, música são possibilidades da arte havendo nuances, entremeios,
encostas se desatando sobre outras, transbordamentos entre elas. Todas estas
possibilidades são, em geral, pensadas, criadas, realizadas para serem
assistidas por espectadores imóveis, passivos, calados, atentos –estamos na
cultura ocidental, na civilização dos passivos, doutrinados, treinados para a
escuta do poder, do poderoso, do líder, do famoso- ou dançantes, algumas vezes,
para a música, mas dançantes que não são parte do processo de criação e de
realização da obra.
Em que aspectos a arte da performance se diferencia ou pode
se diferenciar das outras possibilidades da arte? A arte da performance, ou
simplesmente performance é possibilidade híbrida: pintura, gravura, escultura,
dança, teatro, música se mesclam nas ações, nas arte-ações.
A performance é o hacker de todas as linguagens
artísticas: quebrou as molduras das
artes visuais, escorreu pelas paredes, riscou o chão; trouxe o improviso para o
teatro e para a dança; fez gritar o coro tornando a criação processo colaborativo.
A performance pode combinar, compor, por com todas estas
possibilidades. Na realidade preferimos performances ponto, isto é,
performances que não buscam a criação de pinturas, esculturas, performances não
que buscam resultados materiais, objetos à venda. Digo “preferimos”, pois falo
do ponto de vista do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos.
Temos desenvolvido, entre outros conceitos, o conceito de
iteração e o aplicamos em performances, composições urbanas e webartes.
Deleuze e Guattari, assim como Derrida, se referem
ao conceito de “iteração”: conceito mais amplo e aberto do que o de
“interação”. Na interação, caminho por caminhos pré-estabelecidos pelos
conceituadores do projeto, da obra, da performance. Videogames são interativos:
os interatores percorrem caminhos previstos, navegam, mas não criam, não
modificam, não são participantes, nem parte da proposta.
A participação iterativa é co-laborativa,
co-labor-ativa, prevê a participação ativa do ex-espectador, tornado iterator.
Há possibilidade de modificação da proposta artística pelo iterator. Arte que vai para a rua, se
distrai e caminha como os errantes aceita a iteração. Esta não tem percurso nem
roteiro. Se o tiver o perde. Aberta ao público capaz de palavra, ação,
particip-ação, iteração. Teatro de rua é teatro, fala unidirecional, tal qual a
televisão que nos deixa presos nos sofás, inertes, puro lixão (o espectador)
onde se derramam sons e imagens que convidam apenas a ver e a se calar. Performance
que não aceita a participação é teatro
ou escultura viva em movimento para ser vista. A visão não mais interessa:
queremos Mar(ia-sem-ver)gonha: arte que vai sem ver e valoriza outros sentidos
em detrimento da visão.
A arte
que fugiu de casa, deixou a escola, foi aprender na rua, e deseja ser aberta à
participação é iterativa: a proposta (algo posto, pré-colocado), ao ser
ativado, se redimensiona, se re-inscreve. Não é palavra morta, escrita,
sedimentada, pharmacom, diria Derrida
(2005), é pró-noia – oposta à paranóia- recebendo secreções e se contaminando:
o trabalho se faz no percurso, no itinerário.
Iteração é
repetição no processo, mas esta repetição é entendida como reformulação,
reinvenção, reformatação. São iteratores aqueles que participam ativamente de
um processo proposto não tendo a priori
um resultado definido, um tempo previsível de duração, um espaço fixo de
realização.
Podemos dizer
com Jacques Derrida (1972), criticando J. L. Austin, que, uma vez que não há
contexto fixo e correto ou apropriado para qualquer palavra e, portanto,
nenhuma normalidade, há sempre parasitas e a possibilidade de insucesso: infelicities. Um contexto normal não
pode ser determinado. Logo, não há regras para atos de linguagem. Expandindo,
entendemos que na composição urbana e na performance não há um contexto fixo e
prevê-se parasitagem. Assim, teremos iteração. Daí resulta a necessidade da
prática do improviso, do desvio, a abertura à participação do iterator e/ou seu
silêncio. Paulo Bruscky (2010, p. 54) refere-se a “pacto com o acaso”.
Para Corpos
Informáticos, a composição urbana e a performance deveriam ser iterativas. Os
errantes são convidados a participar sem script,
sem indicação do ato que deve realizar. Não há partição a ser lida. Os
iteratores não são entendidos como convidados a compartilhar. No
compartilhamento os participantes ainda são entendidos como parte (com-partir,
partir para partes). Na iteração o caminho está aberto com/para/per/por o todo.
Na iteração o acaso explode, implode, pode.
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