BIA, BATALHAS E BRIGAS
Bia, batalhas e brigas
(sem data. Provavelmente 1981)
p. 1
Todo começo de estória
é um começo de estória
pedaço da história.
E tem a curiosidade de descobrir os personagens
os barulhos, as cores.
E como todo começo de estória
esta começa com céu azul
e grandes escadas por subir.
p. 2
Agente leva um tempão se estruturando
e uma só noite de ventania
leva tantas pétalas!
Eu não sou de ouro nem meus nervos são de
nem meus nervos são de aço
Eu sou é o bagaço
vida velha
esta praça.
Vida velha velhavida
de novo a me derrubá.
FAZER DO FAZER
UM FAZER REAL
p. 3
Hoje eu não bebi
(muito)
gosto, pequenos recortes antigos
esquecidos em breves passados
por vezes, passado a limpo
Pedaços da gente
montão de membranas.
p. 4
A vida me percorre como percorre a linha
em que rabiscas poesia.
No entanto tua boca de comer chiclete
ainda não sabe me mastigar.
p. 5
Fumava com o prazer de quem acabou de
tirar uma radiografia do pulmão e des-
cobriu que não tem tuberculose, nem pneumonia, nem… talvez
rins, fígado, vesícula, mas…
Fumava com o prazer de quem acabou de tirar radiografia do pulmão e des-
cobriu que não tem tuberculose, nem…
POEMA NATURALISATA
Sentia a alegria que os doentes sentem
à primeira drágea de antibiótico
embora ainda lhe doesse um pouco as costas
e por baixo da costelas.
p. 6
Trabalho, suo, canso mas
NÃO EXISTE UMA GOTA DE SUOR ESCORRENDO
POR BAIXO, PELO MEIO,
QUE NÃO ME SEJA EXTREMAMENTE SENSUAL.
p. 7
Meu trabalho
Meu quarto é como um circo
nele, desfilam atrações
deste espetáculo da vida
de nunca mais terminar.
Eu, cigana do circo,
viajo com ele
errante
pelos caminhos do meu coração.
Neste viajar, vivo
e a vida me percorre
e escorre
na linha dos traços
que traço
no circo.
p. 8
resta um gosto
que gosto
no vazio
da minha boca.
Tenho pequenos postais coloridos
por colar na parede.
Pequenos sonhos mal vividos
esquecidos na rotina
de trabalhos forçados.
Pequena vida mal sonhada
forçada na rotina
de trabalhos perdidos.
p. 9
Eis que me canso de optar
me canso de ser eu mesma.
dá vontade de relaxar
de poder ir novamente à praia
em plena quinta-feira e não sentir culpa
nem sentir o tempo se perder.
dá vontade de voltar pra casa do papai
e não mais lutar
dá vontade de deixar que a cabeça
das minhas crianças se estrepem
dá vontade de não mais ter vontades
dá vontade de depender
de calar
de voltar pra cozinha.
p. 10
.NÃO SE PERCA DE SI.
p. 11
( odeio moscas )
p. 12
p. 13
O CÁRCERE DAS MINHAS COSTELAS
NÃO PRENDE O VENTO QUE AVOA
ESSES ÓRGÃOS PARA FORA DE MIM.
p.14
Escorre filete de tinta
que a ginga desses dedos te levam.
Escorre filete de sangue
por esta caneta de plástico.
Escorre, escorre emoção.
p. 15
Eu corro
Tu corres
Ele corre
Nós corremos urgente de nós mesmos
e tecendo nós nos desamarramos
sem nos desarmar.
Vai, corre de mim
que eu corro de você.
Eu temo
tu temes
Ele teme
Nós tememos urgente nós mesmos.
p. 16
+ - 1977
As aves sempre avoam sozinhas
Grandes ilhas longínquas
Caminho como vento.
p. 17
PARQUE LAGE
Ali nascera
E também vira mortos
vira a morte
e morrera.
Ali vivera
E aprendera que na vida de renasce e morte.
Um gato tem sete vidas.
Quantas vidas ainda viveria ali?
O nascer e o morrer se vive só
Ali nascera só
E também vira mortos
vira a morte
e morrera só.
Ali vivera
E aprendera só que na vida de renasce e morte, só.
Um gato tem sete vidas (só?).
Quantas vidas ainda viveria ali só?
dez./80
p. 18
Morava em frente a uma praça
e gostava.
Achava-a bonita
principalmente à noite:
grandes folhagens verdes
e lâmpadas de néon.
Ninguém.
Ninguém na praça.
Passava da meia noite
Ela vinha com passos de moça
Ela vinha descendo a escada da praça.
Era menina e mulher
Vestida bonita com roupas de sábado
se sentia menina e mulher
e gostava.
Vinha fazendo charme
Descendo a escada escura
Vestida de negro.
Vinha fazendo charme
mas na cabeça não passava nenhum menino.
Ninguém no coração
Como a praça
Bonita
Fazendo charme,
ninguém, ninguém na praça
p. 19
me embebo de cobertores
me esqueço de você
e durmo.
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