sexta-feira, 9 de agosto de 2019

O Circuito dos Afetos de Vladimir Safatle: uma teoria estética.


O Circuito dos Afetos de Vladimir Safatle: uma teoria estética.


The Circuit of Affections by Vladimir Safatle: an aesthetic theory.

Maria Beatriz de Medeiros
Resumo
O presente texto não é exatamente uma resenha do livro O Circuito dos Afetos. Corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo de Vladimir Safatle, é uma releitura que sugere que o livro é uma teoria estética ou o início de uma teoria estética. São utilizados, além das ideias de Safatle, os conceitos de outros filósofos e conceitos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos.

Palavras-chave
Circuito dos afetos; Vladimir Safatle, Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos.

Abstract
This text is not exactly a review of the book The Circuit of Affections. Political bodies, helplessness and the end of the individual by Vladimir Safatle, is a rereading that suggests that the book is an aesthetic theory or the beginning of an aesthetic theory. In addition to Safatle's ideas we use the concepts of other philosophers and concepts developed by the Corpos Informáticos Research Group.

Key-words
Circuit of Affections; Vladimir Safatle, Corpos Informáticos Research Group.

            
Por causar interesse, sugeri que o livro O Circuito dos Afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo, de Vladimir Safatle (2016), fosse lido por alunos de doutorado em arte. Eles o leram, cada um por si, e depois fizemos 4 aulas para debater o livro, sendo que, na última, tivemos a presença de Safatle, on line, para esclarecer dúvidas. Percebi uma grande incompreensão por parte de 20% dos alunos, que, inclusive, entenderam o livro de modo equivocado. Outros 60 % não souberam aproveitar o livro que acredito ser relevante para estudiosos da arte.

            Desses fatos, farei aqui, não uma resenha, mas uma leitura desse livro tentando provar que o mesmo se aproxima de uma teoria estética. Tal pergunta foi feita ao filósofo. O mesmo respondeu afirmativamente: o livro era uma teoria estética ou o início de uma teoria estética, mas que só artistas poderiam perceber isso. O livro vai além de uma teoria estética visto que abrange diversos assuntos, mas como veremos, trata do humano e de suas relações, sendo essas um reflexo do prazer estético. Roland Barthes diria o gozo estético, visto que "o prazer é dizível, o gozo não. O gozo é in-dizível, inter-dito."[1] O gozo estético é próprio da arte e esse é indizível. Voltaremos a esse assunto.

            Logo nas primeiras páginas, o livro me interessou por lançar ideias que são muito próximas dos conceitos com os quais trabalho como coordenadora do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos.[2] Veremos onde esse encontro se dá.

            Safatle afirma que, segundo Hobbes: "de todas as paixões, a que menos faz os homens tender a violar as leis é o medo […] é a única coisa que leva os homens a respeitá-las" (p. 16) […] "a tese principal é que o medo como afeto político central é indissociável da compreensão do indivíduo." […] ao destino da categoria de indivíduo e seu fim necessário." (p. 17-18). O fim necessário do indivíduo é uma premência, para alguém que coordena, há 25 anos, um grupo de pesquisa, arte: performance, composição urbana; um grupo com uma média de 10 membros, 2 reuniões semanais, diversas ações nas ruas em diferentes cidades do Brasil, implicando viagens em grupo, compartilhamento de quartos, barracas, toalhas de banho, produzindo, do material coletado, fotografias e vídeos, web sites e blogs. Um corpo deve fazer para si um corpo sem órgãos para poder fazer um corpo com o grupo, afirmo.

            O outro não pode ser considerado um invasor. Ele traz afecções gerando adesão em um corpo político capaz de "entrar em um regime sensível de aisthesis" (p.19) capaz de "mudar de corpo" através de "uma experiência de descentramento (Lacan) e não "não identidade (Adorno)." (p. 29)

            Safatle fala da necessidade de formas absolutamente não identitárias de encarnação. Enquanto isso, no Brasil, aparecem todos os dias novos coletivos, grupos, manadas, cambadas de artistas se reunindo, trabalhando, pesquisando e atuando, muitas vezes sem nenhuma identidade revelada: Andaime Cia de Teatro, Bijari, Bode Arte, EIA (Experiência de Imersão Ambiental), Grupo Empreza, Filé de Peixe, GIA (Grupo de Interferência Ambiental), Opavivará, Coletivo Osso, Grupo Poro, Amor Experimental, entre tantos outros, inclusive, Corpos Informáticos. Esses grupos, penso,  buscam ser um corpo político assim como o fizeram os Futuristas, Dadaístas, Fluxus, Gutaï, Acionismo Vienense, Situacionistas. É impossível negar o quanto esses grupos mudaram o conceito de arte, o mercado capitalista de arte, mas, também, hábitos cotidianos, corpos, espaços urbanos, o conceito de dança, teatro, música. A performance é o hacker de todas as linguagens artísticas, afirmo. Os grupos citados, os artistas capazes de ousar, seus trabalhos, fizeram e fazem pensar a liberdade, a errância, fizeram e fazem política.

            Safatle sugere, com Freud, que o desamparo seja o "afeto político central" e a necessidade de partir dele "para produzir um gesto de forte potencial liberador: a afirmação da contingência e da errância" sendo, o desamparo, um "dispositivo para um pensamento da transformação política." (p.18)

            Vejamos, então, o que é contingência, segundo Safatle: "um acontecimento contingente é exatamente aquele que traz o não percebido e o incomensurável à cena. […] Incomensurável […] por ser infinitamente outro. […] quebra a redundância de um sistema de informações". (p. 313) No nosso entendimento, a arte deveria fazer exatamente isso: trazer o não percebido, colocar o incomensurável em cena, ser o infinitamente outro, quebrar a redundância do sistema hiperindustrial no qual estamos submersos. Sistema esse que nos leva à "internalização de um 'deal empresarial de si'.(p. 139)

            No nosso entendimento e, segundo diferentes autores, a arte seria aquilo que traz o inesperado, aquilo que está lá, mas que não é percebido, não é visto, não é sentido por muitos. A arte traz um outro, quiçá um outro incomensurável. O artista é desejo, não empresa.

            Dufrenne diria que o objeto estético "nos chama a uma nova unidade com o mundo" (1976, p. 189) e afirma que o objeto estético se separa do mundo pois traz em si um mundo que é sentido e um possível do mundo real. Como afirmado acima, Roland Barthes diria o gozo estético. O gozo estético, que nos separa do mundo, é próprio da arte e esse é indizível.

Texto de gozo (jouissance): aquele que coloca em estado de perda, aquele que desconforta (talvez até um certo tédio), faz vacilar os assentos históricos, culturais, psicológicos, do leitor, a consistência de seus gostos, seus valores e suas lembranças, coloca em crise sua relação com a linguagem.[3] (Barthes, 1973, p. 25)

            Não estaríamos aqui, no texto de gozo, bem próximos do desamparo?

            Heidegger, em A origem da obra de arte (1977, p. 62), se refere ao "abismo intranquilizante", a um "múltiplo choque" que nos arranca do habitual, que nos coloca em combate com o familiar. "Sempre que a arte acontece, a saber, quando há um princípio (initial), produz-se na história um choque, a história começa ou recomeça de novo."

            Então podemos afirmar que o "abismo intranquilizante", ao qual nos leva a arte, nos coloca em um "estado de perda", no desamparo, na contingência; nos traz o incomensurável, o infinitamente outro? Perseguindo este viés chegamos a Jacques Derrida, algumas vezes citado por Safatle, e à página idixa.net.[4]

Cada obra é um evento único, o primeiro evento. Existe incubação, apelo e é com um golpe, uma força, que ela faz irrupção. É um tempo de loucura, anterior à nominação, que não se deixa repetir e se apaga no momento mesmo em que chega. Ela surpreende radicalmente sem se deixar classificar em nenhum gênero - como o pictograma de Artaud. Nenhuma história a precede.[5]

            Se não há história que precede (ou sucede) estamos na contingência, no incomensurável: Arte.

Os capítulos

            Os três capítulos do livro de Safatle se iniciam com fotografias de obras de arte e inúmeros são os poetas e artistas citados no livro: Stéphane Mallarmé, David Bowie, Paul Celan, Franz Kafka, Orlan, Edgar Allan Poe, Lou Reed, Cindy Sherman e Nietzsche, "o mais artista dos filósofos" (p. 89), entre outros.

            O capítulo denominado "Política inc" se inicia com a análise da obra de Yves Klein, Salto no vazio, uma montagem fotográfica que tange a arte da perfomance. Afirma Safatle: "talvez a única função da arte seja exatamente esta, nos faz passar da impotência ao impossível." (p. 35) "O desamparo não projeta um horizonte de expectativas […] É tal temporalidade que o desamparo elimina, inaugurando outra temporalidade desprovida de expectativa". (p. 52) Salto no vazio é uma foto-montagem/performance e nos leva a pensar em um temporalidade outra: um movimento rumo ao abismo que nunca acontece, acontecendo em nós o tombo que jamais ocorrerá.

            O capítulo "Lebensform" (Forma de vida) se inicia com a obra de Anselm Kiefer. De fato, o que Safatle apresenta é uma fotografia de um detalhe de um trabalho monstro (no sentido de "enorme"), exposto no Grand Palais, em 2007: "Sternenfall" (Chuva de estrelas): que "compreende o nascimento e a morte do universo com todas as suas estrelas que nascem e morrem como os seres humanos." (Kiefer, www.grandpalais.fr).[6] Por isso me refiro a um trabalho monstruoso: o mesmo ocupou inteiramente o Grand Palais com 13.000 m2 e até 45 metros de altura. Trouxe o "incomensurável à cena".[7] Lembro, esta foi a primeira de uma série de exposições denominadas "Monumenta" realizadas  no Grand Palais, assim, podemos dizer que ela é, de fato, monstra. A monumentação (tornar monumento) é infiel, diria Lyotard (1996).

            O terceiro capítulo "Persona Ficta" é introduzido com uma fotografia da performance "América me ama e eu amo a América", de Joseph Beuys (1974) onde, Beuys, que entrou e saiu dos Estados Unidos da América sem tocar o chão, viveu durante uma semana em uma sala com um coiote, um dos animais símbolos desse país. Podemos afirmar que, esse trabalho trouxe, para a arte, para a política e para a ética um infinitamente outro. Podemos, também, falar em uma temporalidade outra, visto que se Beuys não tocou o chão dos Estados Unidos da América, não houve espaço. Se tempo e espaço estão intimamente ligados, se não há espaço, a temporalidade se encontra suspensa, como em Salto no vazio de Yves Klein.

            Podemos, ainda, relacionar esse trabalho à seguinte afirmação de Safatle: "Quando a violência expulsa o homem da crença na participação da natureza enquanto horizonte de determinação estável de sentido, aparece-lhe a experiência da irredutibilidade da contingência de sua posição existencial." (p.57) Podemos ver a "violência" na relação de Beuys com os E.U.A.. Relação essa, certamente, gerada pela violência dos E.U.A. à Beuys e seus princípios éticos e políticos. Essa violência é representada, ainda, pelo coiote "que não sei como responderá", coiote-ameaça diante de um Beuys, aparentemente, vulnerável.

Já o desamparo tem algo de desabamento das reações possíveis, de paralisia sem reação ou mesmo da extrema vulnerabilidade vinda do fato de se estar fora de si, mas agora dependendo do Outro que não sei como responderá. (p. 51)

            A análise feita por Safatle, em seguida, é da obra "Odisséia" de Homero. Refere-se ao fato de apenas o cão de Ulisses tê-lo reconhecido ao seu regresso para casa: "é a qualidade inumana [o animal em nós] que primeiro indica o retorno ao 'meu lugar'. […] Os animais percebem os animais que ainda somos, eles nos lembram de um 'aquém' da individualidade." (p. 196) Mais a frente Safatle afirma "a contingência […] por ter propriedades processuais […] se coloca como fundamento para um organismo cuja identidade é definida exatamente pela capacidade de entrar em errância, pela sua 'capacidade transitiva' de não se deixar pensar sob a forma da identidade". O cão e/ou o coiote não nos reconhecem pela identidade, nem pela individualidade, mas pelo animal "antipredicativo" (Safatle) que somos.

            Essas referências artísticas podem ser consideradas, de fato, trabalhos que produziram "um gesto de forte potencial liberador": "a afirmação da contingência e da errância." Elas podem ser pensadas como obras de cunho político: jogar-se no vazio, enfrentar um coiote e os Estados Unidos da América, ocupar 13.000 m2 tentando compreender o nascimento e a morte dos seres humanos: guerras, destruição, ruínas e a vida que segue.

            Segundo Safatle "a política pode ser pensada enquanto prática que permite ao desamparo aparecer como fundamento de produtividade de novas formas sociais, na medida em que impede sua conversão em medo social e que nos abre para o acontecimentos que não sabemos ainda como experimentar." (p.50) Aqui vemos claramente a política e a arte como "prática de confrontação com acontecimentos que desorientam a aisthesis do tempo e do espaço, assim como o caráter regular das normas e dos lugares a serem ocupados." (p. 50) Desde 2010, Corpos Informáticos vem organizando eventos denominados Performance, Corpo, Política.[8] O objetivo tem sido pensar de forma teórica e prática, com o corpo todo, como gerar outras formas sociais, como criar redes e confrontar o público, o passante, o iterator[9] a "acontecimentos que não sabemos ainda como experimentar".

"Progresso" já, cá e volução

            Vivemos em uma sociedade regida pelo "progresso" e pelo "crescimento", manipulada em direção ao medo, "fonte da servidão política" (p. 99), e à melancolia", anestesia das paixões, dos afetos, voltando-se cada dia mais para a "esperança" dada por partidos e religiões que surgem a cada esquina. Partidos e religiões cada vez mais repressoras de todas as paixões. Safatle alerta para o perigo da "esperança" e do "devir sem tempo". E propõe com Hegel uma temporalidade concreta: "o próprio tempo é o devir, o nascer e o perecer, a abstração existente, Cronos que tudo engendra e destrói seus filhos". (Hegel apud Safatle, p. 109) "Presente absoluto é a expressão da temporalidade concreta […] temporalidade que é a produção do processo concreto das coisas. […] Não há nada mais a esperar porque os impossíveis podem agora se tornar possíveis." (p. 113/114)
            Corpos Informáticos, para pensar o tempo e o espaço, gerando incompossíveis,[10] sugere os termos "cajá" e "jaca": cá (aqui) e já (agora). O que se busca é fazer devir, nascer, crescer e perecer o conceito de tempo e espaço que ora vivemos pressionados pela "internalização de um 'ideal empresarial de si'". (p. 139) O cá desloca a premência do aqui e o já desordena a precisão do agora. Com o cajá e a jaca fazemos um suco poético que nos retira da melancolia e gesta coragem sem esperança.
           
            Corpos Informáticos sugere, ainda, o termo "volução" entendendo que não há evolução nem involução, nem desenvolvimento, nem progresso. Volutas voluptuosas: tempo e espaço esgarçados em um contínuo redemoinho sensual e lodacento onde há sempre retorno e entorno, onde a diferença quer entornar o caldo do presente absoluto.

            Esse conceito de temporalidade nos leva diretamente ao tempo-espaço em uma performance, ao tempo-espaço de uma performance para o artista, para o espectador, para um provável iterator. O corpo pleno, jogado e aberto, solto e misturado, engendrando e sendo engendrado, simultaneamente, devir, nascimento e morte (Kiefer), aparecimento de incompossíveis provocados em busca da quebra do "progresso", do "crescimento" que rumam em direção à poluição definitiva dos rios, mares, chuvas, terras, animais e de nós mesmos envenenados por agrotóxicos, amianto, dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx).

A força do capitalismo cultural e hiperindustrial é fazer passar os fantasmas que ele produz industrialmente pelo consistente que não existe, visando precisamente extenuá-lo e eliminá-lo, porque ele não é nem calculável nem controlável. […] O capitalismo é, então, aquilo que tende a eliminar a consistência, a incalculabilidade, a não-imanência na imanência mesma. (Stiegler apud Medeiros, 2007, p. 21/22)

            Segundo Safatle, o neoliberalismo atual expropria a economia libidinal dos sujeitos (p. 137) e "o capitalismo desconhece contingências". (p. 311). Segundo Stiegler, o capitalismo cultural e hiperindustrial tende a eliminar a consistência, a incalculabilidade. A arte e a arte da performance buscam o incalculável, o incontrolável e a libido expropriada dos sujeitos. Trata-se fugir da "anomia adminstrada" (p.144) e entrar no jogo, a anomia que subverte.

"O trabalho exige uma conduta em que o cálculo do esforço, relacionado à eficácia produtiva, é constante. Exige uma conduta razoável, em que os movimentos tumultuosos e que se liberam na festa e, geralmente, no jogo, não são admitidos." (Bataille apud Safatle, p. 160)

                  A performance e o charivari, “inauguram [...] um período de anomia que interrompe e, temporariamente, subverte, a ordem social.” (AGAMBEN, 2004, p. 108). Trata-se de um momento onde os jogos estabelecidos são colocados em questão: há desorganização, há silêncio ou gritaria, há paralisia ou agitação, a bunda é mostrada em deboche, o riso estoura e rasga o ritmo frenético do cotidiano anestesiado. […] Então podemos aventar, colocar ao vento, que a performance busca o real além da realidade (Lacan), sintoma da vida, o inatingível, o ponto cego que grita na praia sem dizer palavras, isto é, algo longe do oceano da linguagem, tohu-bohu, charivari.





Performance Dança das cadeiras. Corpos Informáticos e iteratores. Lago Oeste, DF, 2016. Foto: Bruno Corte Real.[11]

                  A performance não é ficção nem representação. Ela não apresenta, ela presenta, volui, torna cajá e jaca algo que antes não estava posto. A arte pode ser ficção. A performance, à qual nos referimos, não é ficção: ela joga na cara o real irredutível a representações. Daí resulta a dificuldade de transformar em linguagem aquilo que é gás: puro movimento que não assenta, não se acentua nem pode ser sossegado.[12]
                  Safatle ri de si mesmo, como rimos em performance, quando lembra que "o universo compulsivo do trabalho alienado" considera "improdutivas atividades como o sexo, a experiência amorosa, o fazer estético, dar aulas sobre o problema da contradição em Hegel." Não damos aula sobre a contradição em Hegel, como Safatle, fazemos arte e fingimos que a consideramos inútil e improdutiva. Também lemos livros de filosofia e, por vezes, acreditamos que esses são teorias estéticas, quiçá, obras de arte: acontecimentos contigentes que trazem o não percebido e o incomensurável à cena.


Performance Na véspera do golpe. Brasília, 2015. Foto: Mariana Brites (Alla Soub).

Bibliografia complementar

BARTHES. Le plaisir du texte. PARIS, SEUIL, 1973.
DUFRENNE, Mikel. Esthétique et philosophie. Paris: Klincksieck, 1976, tomo 1.
HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Lisboa: Edições 70, 1977.
LYOTARD, Jean-François. Moralidades pós-modernas. Campinas (SP), Papirus, 1996.
MEDEIROS, M. B. Bernard Stiegler: reflexões não contemporâneas. Chapecó (SC): Argos, 2007.
__________ "Performance, charivari e política". Revista Brasileira de Estudos da Presença. Porto Alegre. UFRGS. v. 4, n. 1, 2014. Disponível em seer.ufrgs.br/index.php/presenca/article/view/41695. Acesso em 21 de julho de 2017.
__________ "Sugestões de conceitos para reflexão sobre a arte contemporânea a partir da teoria e prática do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos". Art Research Journal, Vol. 4. n. 1, UFRN, 2017.




[1] "Le plaisir est dicible, la jouissance ne l'est pas. La jouissance est in-dicible, inter-dite." p. 36
[2] Corpos informáticos foi fundado em 1992 e trabalha a partir de Brasília com composição urbana, performance, videoarte e webarte. www.corpos.org; corpos.blogspot.com.br; performancecorpopolitica.net; vimeo.com/corpos; grafiasdebiamedeiros.blogspot.com.br.
[3] "Texte de jouissance: celui qui met en état de perte, celui qui déconforte (peut-êrte jusqu'à un certain ennui), fait vaciller les assises historiques, culturelles, psychologiques, du lecteur, la consistance de ses goûts, de ses valeurs et de ses souvenirs, met en crise son rapport au langage." (BARTHES, 1973, p. 25).
[4] idixa.net, hoje denominado também Orlœuvre, é uma coleção de citações de Jacques Derrida ou o trabalho de uma outra escritura nos movimentos de Derrida, como se referem seus autores (La mise en oeuvre d'une autre écriture, dans la mouvance de Jacques Derrida). http://www.idixa.net/
[5] "Chaque oeuvre est un événement unique, le premier événement. Il y a eu incubation, appel, et c'est par un coup de force, un forçage, qu'elle fait irruption. C'est un temps de folie, antérieur à la nomination, qui ne se laisse pas répéter et s'efface dans le moment même où il arrive. Il surprend radicalement, sans se laisser classer dans aucun genre - comme le pictogramme d'Artaud. Aucune histoire ne le précède." www.idixa.net/Pixa/pagixa-0601111423.html
[7] Recomendo uma "visita" a essa exposição: ver imagens em buscadores virtuais ou em grandpalais.fr/fr/article/monumenta-2007-portfolio.
[9]  Deleuze e Guattari, assim como Derrida, se referem ao conceito de “iteração”: conceito mais amplo e aberto do que o de “interação”. Na interação, caminho por caminhos pré-estabelecidos pelos criadores do projeto, da obra, da performance. Videogames são interativos: os interatores percorrem caminhos previstos, navegam, mas não criam, não modificam, não são participantes, nem parte da proposta.
A participação iterativa é co-laborativa, co-labor-ativa, prevê a participação ativa do ex-espectador, tornado iterator. Na iteração há possibilidade de modificação da proposta artística pelo iterator. Para maior detalhamento: MEDEIROS, M.B. "Sugestões de conceitos para reflexão sobre a arte contemporânea a partir da teoria e prática do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos". Art Research Journal, Vol. 4. n. 1, UFRN, 2017.
[10] "A compossibilidade tem vínculos particulares com a noção de mundos possíveis: os mundos particulares, se eles pertencem `a um mesmo mundo possível, são compossíveis; e um mundo é tal que todo possível que não lhe pertence é incompossível com ele." (La compossibilité entretient des liens particuliers avec la notion de mondes possibles : les possibles particuliers, s'ils appartiennent à un même monde possible, sont compossibles ; et un monde possible est tel que tout possible qui ne lui appartient pas est incompossible avec lui.) fr.wikipedia.org: "Compossibilité". Acesso em 21 de jul de 2017.
[11] Na foto: Gustavo Silvamaral, Raphael Couto, João Stoppa, Matheus Opa, Cássia Nunes, Maria Eugênia matricardi, Laís Guedes, Ayla Gresta e Bia Medeiros.
[12] Esses dois últimos parágrafos constam do texto "Performance, charivari e política". MEDEIROS, M.B. in Revista de Estudos da Presença, n 1, vol. 4, p. 47 a 59. Porto Alegre: UFRGS, 2014.









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