Maria Beatriz de Medeiros
tese de Doutorado
orientador: Bernard Teyssèdre
Universidade Paris I- Sorbonne
Paris. 1989
A dilatação do tempo,que insiste no presente de nossas relações,
resta estrangeira a esta pontualidade do instante. Luce Irigaray
O próprio da narrativa se deve à esta superioridade que ele tem sobre mim
de estar acabado no momento mesmo em que eu começo a lê-lo. Bernard Pignaud
MACULAGE
Era uma vez uma mulher que se divertia em correr perigos mortais. Daí nasceu o desejo de escrever sobre uma série de ações, ações ditas artísticas efetuadas entre 1982 e 1987.
Este trabalho teórico tenta transmitir a impossibilidade de prever o que se segue à partir do que precede. Ele é descendente de um combate entre a inteligência que se exprime por conceitos, descobrindo ligações causais, analogias, etc. e a galhofa: de prazer em prazer, de anedota em anedota. Assim o instinto foge das demonstrações lineares entediantes. Instinto de sobrevivência, a sobrevivência de nosso trabalho plástico. Os textos aqui reproduzidos tentam o erro, exprimem seus limites, sua nocividade.
A palavra, é ela a cegueira dos movimentos?
O corpo é o ornamento, o espaço da/e realização. Combate. No tempo presente só o corpo carne, o corpo-entranhas, a matéria, o palpável são ritmo. Nenhum retorno possível.
Nós, Qual é a parte
seres anfíbios, da sorte (hazard) se a impetuosidade
nós estamos conscientes do tocar é guiada pelo
da futilidade odor impúdico
deste jogo ((en)jeu). daquilo que resta de
(des) ordem do desejo?
ESTA TESE
TRATA,
MALTRATA,
TRAI AS
MANI-FESTA-AÇÕES
Aquele que constrói um discurso sobre uma ação a aniquila, mas as mani-festa-ações aqui esfoladas (dépouillées) já estão esvaziadas de suas raivas e enclausuradas (cloisonnées) em reproduções fotográficas de 1/250 o de segundo destas. Esta tese rói nosso fígado (Cette thèse ronge notre foie, uma honomatopéia de “rói nossa fé”).
Aquele que constrói um discurso sobre uma ação a aniquila, mas as mani-festa-ações aqui esfoladas (dépouillées) já estão esvaziadas de suas raivas e enclausuradas (cloisonnées) em reproduções fotográficas de 1/250 o de segundo destas. Esta tese rói nosso fígado (Cette thèse ronge notre foie, uma honomatopéia de “rói nossa fé”).
Nenhum falso dispositivo para relacionar nossa prática artística, os elementos escritos, reflexivos ou poéticos, as ilustrações etc. A evolução da escrita (1986/1989) se deixa sentir. A pluralidade de tons é, às vezes, voluntária.
O paraíso é apenas a nostalgia da unidade.
Nossa produção é nossa. A arte da qual podemos falar falar é somente a nossa, de nossa pouca perspectiva. P.S. Nenhum ponto de vista esgota a pluralidade/diversidade do mundo. Nossas criações são um reflexo de nossas percepções de um imaginário particular, tudo isto em um momento único e preciso. A pretensão à universalidade é geradora de direito de exclusão. Durante o carnaval, todo disfarce é possível nas avenidas fervilhantes, abertas aos estrangeiros que não sabem sambar. No entanto, graças à uma norma auto-cêntrica que quer a cultura européia seja a cultura universal, nós seremos sempre o outro, nós seremos sempre do outro lado da minoria adequada ao ideal: a margem. Posição privilegiado no marasmo.
verdades locais.
Como nossa escrita
convenções momentâneas
pode ir
transformação contínua.
além daquilo que
domínios parciais.
nosso corpo pode
relações variáveis.
viver?
“Se você tem uma idéia incrível
é melhor fazer uma canção
está provado
que só é possível
filosofar em alemão”.
Caetano Veloso. Língua.
A filosofia é somente uma velha tia que veio nos visitar e que se instalou apesar de nossos desejos.
Outras questões normalmente levantadas em capítulos introdutórios:
1- Esta tese é um desafio. Desafio à nossa criatividade. Ser artista, escrivã (vã) (écrivain (vaine)), intérprete, maquetista, “mani-festa-acionista”, organizar na desordem, enganar os discursos lógicos… voluntariamente se perder e acreditar no desafio.
2- Esta tese é um desafio, um desafio à nossa paciência.
3- Quem somos (o) nós (da escrita)?
Estou consciente
da futilidade (Beije-me
deste je(u) (eu/jogo)? antes que
A ambigüidade é o substrato
nossa parceira. De nossas ações
se torne um
reduto.)
A desordem existe?
A racionalidade é ilusão?
5- Em que medida essa tese não foi escrita só para Ti? (com T maiúsculo. referência ao orientador: Teyssèdre)
(Beije me!)
P.S. Na página seguinte duas fotos onde figua, entre outros, o orientador Teyssèdre sorridente (coisa raríssima)
6- Algumas citações, algumas ilustrações e textos foram introduzidos de forma aleatória. Blá, blá, blá. Nós nos propusemos como regra não passar do formato 21/29.7 cm.
O sopro te cola na pele. A dança frenética dos rituais exorcizantes não impedem a sobrevivência do logos preponderante. Nos(sas) galinhas, serão elas capazes de dissipar o vento cósmico?
“_ Que os tornados devastem!” A serpente está enojada pelas patas com unhas pintadas (vernis, envernissadas) de nos(sas) galinhas. Nós nos aninharemos nos esconderijos do imaginário?
“_Como voce se chama?” Na rua Saint-Denis, ou outra, nossos bicos avermelhados ficarão intactos como os tesouros dos Faraós para testemunhar os maiores valores de nossa cultura.
Era uma vez UMA TESE EM ARTES PLÁSTICAS
O possível:
Nossas ações (são elas obras de arte?) tendem para o orgasmo. No entanto periodicamente assassinos monstruosos alimentam as colunas policiais. Um discurso sobre maníacos é possível? Nenhum ponto de vista esgota a pluralidade-diversidade do mundo (das mani-festa-ações).
ANTROPOFAGIA
Contraditório:
O discurso sobre a arte, sobre uma arte, oferece a contradição. Em um conjunto dinâmico: a verdade e seu contrário.
Dinamismo:
Isto é uma tese em artes plásticas e hoje é meu aniversário.
“… a verdade de um poema não existe sem a textura deste… sem a totalidade de seus elementos.”
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Ação e texto se caçam mutuamente.
SUJEITO OBJETO
Qual sujeito? Qual objeto?
INDIVÍDUO MUNDO
Qual indivíduo? Em qual mundo?
O HOMEM SUA ÉPOCA
O ser humano existe fora da idéia de ser humano?
Experiência da realidade
imprevisto
subjetividade objetivação
da linguagem
Beije-me antes que a totalidade de nossas ações sejam reduzidas à palavras alinhadas umas atrás das outras.
Beije-me!
A linguagem corporal dificilmente se tornará linguagem arcaica e comprometida.
Como proceder, para a execução desta tese, se toda ação, performance ou “mani-festa-ação” não podem nunca ser traduzidas, em sua totalidade, em um texto, ou em uma obra plástica estática, estável, imutável?
Das estratégias:
Isto é uma tese em artes plásticas e hoje é meu aniversário. Não se explicará por um discurso, em seguida ilustrado, nosso trabalho plástico.
Não se bordará um discurso entorno das imagens.
Precisaremos encontrar estratégias de escrita como encontramos, na espontaneidade e na improvisação, estratégias de ação. Aqui, nossas estratégias serão certamente particulares e diferentes das utilizadas para as ações -se havia uma-. Manias, ações, corpos, carne, calor e batimentos de coração, pulsões, impulsões de linguagens que não se identificam muito com a escrita.
Desta tese:
Todo texto de análise e interrogação de uma atividade vivida se refere à um passado e não pode estar viva. Esta tese, pode ela pretender ser uma mani-festa-ação? Pode ela ser considerada como arte: uma “obra” de arte única, pontual, e efêmera? Efêmera no sentido que ela teme a morte e que ela deseja a própria morte: única maneira para mim, por um ponto final, de poder sempre recomeçar do início. Cada mani-festa-ação me faz viver, inteiramente, um ser a cada vez inédito. (Neste sentido esta tese é uma mani-festa-ação.) O fim de cada mania me liberta para uma outra vida. Este tese é, talvez, uma mani-festa-ação, mas ela não me parece muito uma festa, e, de alguma forma, ela congela (fige) a ação.
Linguagem
Quando pensamos linguagem, três questões se colocam:
1- Utilizamos uma linguagem em nossas ações artísticas, performances? Qual?_ Linguagem da desordem. Linguagem do corpo. Não-linguagem.
2- Utilizamos linguagem em nossas ações? O grito, o gemido, são linguagens. _ Linguagem da ordem do animal.
- Qual linguagem utilizar para este texto?!
Quem escreve este texto?
Me chamo Bia.
Às vezes me deixo chamar Beatriz, ou Maria.
Meu nome é Maria Beatriz.
Me chamam Madame de Medeiros, Medeiros. Já fui Pinheiro Campos e Aveline, sem jamais ter acrescentado estes nomes àquele com o qual me registraram.
Quem escreve este texto?
“Aquele que fala não é aquele que escreve, e aquele que escreve não é aquele que é.”
Aquela que sou não é aquela que escreve. Aquela que escreve não é aquela que é e que vive em cada uma nossas ações.
Às vezes me sinto menina, d’outras mulher. Por vezes me faço homem, mas posso ser ainda professora Doutora Adjunto III, mãe, artista, performer, coordenadora, uma tremenda irresponsável, ou simplesmente alguém de passagem.
Escrever um texto sobre performance é uma contradição. Um sistema fechado e reconhecível. Este sistema é incompatível com as performances. As ações são irredutíveis à palavras. Nosso procedimento artístico não quer erigir um sistema, não quer se tornar um método, não funda escola.
O fato mesmo de se exprimir por uma linguagem envelhecida pela repetição, uma linguagem aprisionada, contradiz e freia, que queiramos ou não, a prática artística. (Mas se considerarmos que nesta prática queremos provocar interrogação pelo bombardeamento de contradições, este texto será um enigma à mais).
Amamos o calor. Amamos a cerveja, o mar e o chão bem fresco. Não queremos chegar à lugar nenhum a não ser aquele que implique recomeço. Nossos corpos estão vivos. Nosso trabalho artístico se quer em contínua transformação de tal forma que não seja possível defini-lo, conceituá-lo. Por um lado lamentamos reduzi-lo à palavras, por outro, desafio.
Não realizamos, na arte, nenhum ato de linguagem. Nenhum resultado é procurado (Mentira). Nossas ações não são sistemas. Não fazemos performances nem optima, nem péssima.
Se nomeamos as ações, nós as aprisionamos, as matamos, as colocamos em conceitos. Esta prática as nadifica. Nós nomeamos nossas ações: Mania-festa-ação, Galinha Assada, Materfagia, Imcompossibilidades, Espetáculo Intersemiótico, Corpos Informáticos, Secreções e Contaminações, Incubus e Sucubus…, e as definimos.
O inverso do jogo se instala quando o simulacro é abandonado pela penetração do mistério. Nem produtos, nem bens, nem obras: risco, vertigem, carnaval. A realidade é incompatível com o ser. No jogo, jogo da vida ordinária, o indivíduo, o outro, que representa, a “persona”, o alienado submetido à aberração da efficaci®realidade, se deixa levar. Não queremos ser agradáveis, nem hábeis. Um carnaval sem máscara, sem as máscaras. “A felicidade é a prova dos nove”Oswald de Andrade. Nem prova, nem exercício, nenhum objetivo (Mentira). O jogo corrompido, contaminado pela vida. Bêbado pela dissolução da ilusão (IN-LUSIO: “entrada em jogo") a consciência se eclipsa. Face à face, entranhas à entranhas com o rosto, e as entranhas desmascarado do real. Mistério, arrepio, pânico, frenesi no universo visceral, angústia, confusão, energias selvagens; quando o real se deixa des-cobrir.
Por definições reencontramos uma coerência em nossa prática artística. Vejam nossa coerência: cada uma nossas ações, cada um nossos estouros de energia (Le Petit Robert, Dictionnaire…, definição de ação: “déploiements d’énergie”) revelam certas manias, isto é “síndromes mentais caracterizadas por distúrbios de humor” (idem, definição de mania). Essas explodem na desordem sem controle. Cada mania, cada exaltação eufórica (idem) dá nascimento a uma festa particular, isto é, a uma vida particular de prazer e de desordem. Cada festa implica diversas ações entrecortadas de não-ações. Estas ações são muitas vezes contraditórias. Improviso, não há repetições.
Não fazemos nem performances, nem happenings, nem eventos. Não somos Art corporel, nem Body-art.
Para esse texto somos obrigadas, de certa forma, a utilisar uma linguagem codificada até o desgaste. Para as Manie-festa-ações nós negamos toda presença de uma possível linguagem. Nós negamos essa presença em dois sentidos. Por um lado, nossas mani festa-ações são únicas e não se serem de nenhum código. Elas não devem constituir um sistema (ainda que, se analisarmos a totalidade das ações efetuadas nos últimos anos, nós encontraremos uma certa lógica. Nossa comunicação é não-linguística. "Traduzir" nossas ações em uma linguagem qualquer não é razoável. Sejamos razoáveis e deixemos falar nossas ações desordenadas e irracionais. Sejamos razoáveis e escutemos apenas a voz do corpo e a cor do grito.
Por outro lado, em nossas manie-festa-ações não utilizamos nem textos nem palavras, pois essa parte da experiência desapareceu. Esses não são mais "veículos substanciais de sentido, como nos assinala Adorno.
Durante nossas "manias", utilizamos uma não-linguagem da ordem do animal. Trata-se de criar o inverso das palavras, o outro do discurso. Trata-se de instaurar a ordem do grito ou da desordem.
GRITO
Não há texto que corresponda a esse sub-capítulo. Ele é apenas GRITO da pé de página.
Nossos gritos não constituem um sistema fechado, reconhecível, e facilmente "decoficável", no entanto, eles podem constituir significações incertas.
Duvignaud (1974, p. 191, 192), falando de happenings, do Living Theater, de Brecht, afirma no capítulo "A crise da espontaneidade", no livro O Teatro Contemporâneo, que se trata sempre de "encontrar novas relações entre os homens", de ensinar aos jovens espectadores que eles podem gritar "Abaixo o Estado"com alguma chance de se fazer ouvir." Para nós não se trata de gritar "Abaixo o Estado". Esse grito, assim como todos aqueles que se manifestam contra alguma coisa, implicam, como afirma o próprio Duvignaud, "uma repressão proporcional à quantidade de mal-estar e de insegurança que ele terá feito nascer."
Dançar até o esgotamento, gritar, uivar, produzir todo tipo de barulho são parte das cerimonias que buscam caçar ou chamar os espíritos dos mortos.
Se a linha (o desenho, a pintura) têm em si um eco do corpo, "os desenhos são os irmãos dos textos em pressão de angústia", então os desenhos são também irmãos dos textos em pressão de prazer. Sobre o papel a linha escorre livre, ela não segue as paralelas do caderno. Ela toma toda a página, de cima em baixo, da direita à esquerda. Em desenhos o gesto se destaca, se desgarra em uma direção aonde não podemos o sur-preender. Assim os desenhos são irmãos dos textos em pressão de prazer e em intensidade de gozo. O corpo, desenhando no espaço tridimensional um momento infinito e efêmero, não somente com a mão e o braço, mas com todas as partes do corpo, todos membros e membranas, não pode ser linguagem. Ele é a vida mesma se exprimindo por faíscas de prazer, de angústia, tocando o prazer, logo o indizível, como afirma Barthes.
Bernard Teyssèdre, em Opus Internacional, falando de "artes do corpo", se referindo à Vito Acconci, Lygia Clark, Michel Journiac e Gina Pane, afirma que eles transgridem e seus corpos "transindividuais" servem de "suporte imagem para uma comunicação não linguística." O corpo é capaz de usar uma não-linguagem que se opõe à falsidade da transparência conceitual. O corpo, por sua opacidade, é ruptura.
Atenção: nosso trabalho não quer ser Body-Art nam Art Corporel.
Nós tentamos não criar nem códigos nem linguagem. Nós não queremos ser reduzidas a um "ismo". Trata-se de sur-preender. Seria necessário desaprender a lingugagem plástica, seria necessário esquecer os valores estéticos ocidentais, as modas. Seria necessário ignorar os possíveis julgamentos do público, não temer reações. (Nunca esqueceremos o dia em que alguém "subiu" no "palco" para nos "descer".)
Que corpo?
Este corpo que tem dificuldades de se levantar de manhã. Um outro corpo-embrião que rói este ventre inchado gritando (criando) uma outra voz ávida (âpre, áspera, amarga, ávida) e esfomeada. Um outro corpo, esta manhã, se apagando no rasgo-prazer da penetração que desmorona toda consciência. Infinito mergulho instantâneo no esquecimento. Este corpo que se umidifica já na aurora do desejo suscitado por um texto banal. Um outro corpo que não tem mais vontade de escrever sobre outros corpos, outros, que este que procurando entre palavras nuas desperta. “O erotismo, disse, é aos meus olhos, o desequilíbrio no qual o ser se coloca ele-mesmo em questão.” (BATAILLE, 1965, p. 36) Nós desejamos nos pôr em questão à cada instante novamente. O erotismo é um de nossos parceiros preferidos.
Ainda um outro, e um outro, e um outro corpo, sempre o mesmo, feito de ações mecanizadas. Perfuro meu ticket de metrô na caixa metálica. Ticket furado. “Ser rasgado”, dizem os nordestinos brasileiros se referindo às mulheres. E as nordestinas se auto-denominam “rasgadas”. Ticket furado. Corpo-mulher, buraco, rasgo. Objeto do desejo, desejo de objeto. O phallus é o outro. A mulher é a estética.
A masturbação rasga um corpo arrebatado no silêncio incongruente de uma quinta-feira à tarde.
A nudez feminina e sua presença na arte contemporânea
Um corpo feito de ações repetitivas se aprisiona. Fortaleza. Claustrofobia. Acendo um outro cigarro queimando este corpo de infinitos caracteres. Corpo: “lugar do desejo” (Lyotard). Qual desejo? Corpo, objeto no mundo, incapaz, por vezes, de distinguir certas sutilezas do quotidiano brutal. Sopa de sentimentos. Onde se encontra a fonte? Um corpo-pele e entranhas intestinas. Um corpo único (e esse desejo de gritar?) que vomita conhecimentos fundados em consciências impensadas.
Corpo erótico e peludo, e este cheiro de suor. Nada é como nas publicidades, e ainda por cima eu tenho o nariz torto.
Você já fez amor no banheiro de um barco em alto-mar? Você trepou em árvores, nu, depois de ter feito 30 anos? Já maquiou o corpo inteiro com uma maquiagem gosmenta? Que consciência tem você de seu próprio corpo? Seu corpo, sua propriedade, lugar proibido para mãos sedentas. “Espero no umbigo do deserto.” (Caetano Veloso)
A areia quente contra o corpo úmido. O sal do mar e o Sol massacrante. A lama penetrando por entre os dedos do pé grosseiro. Grossas gotas de suor escorrem, escorregam, entre os seios e um chopp bem gelado. Lembranças de infância de um corpo tornado branco e frágil pela proteção contínua de casacos (manteaux).
“Contra a memória fonte do hábito.” Oswald de Andrade
Por uma memória capaz de revelar a força de um vivido essencialmente corporal. Abaixo a filosofia, com excessão daquela lida à sombra de um meio-dia ensolarado, os olhos queimados pela luz. Que corpo? Porque o corpo? Por que somos cidadãos inteiramente loucos (alienados), com escarros de razão e sorriso irônico: uma fileira de paixões danadas. Meu grito serra o céu ressecado.
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ResponderExcluirescrita incrível!!!!!
aguando por todos por todos os rasgos pela continuidade
dale desorientadora-zona