Arte, performance e rua
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http://www.raf.ifac.ufop.br/pdf/artefilosofia_12/(7)Medeiros.pdf
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Maria Beatriz de Medeiros
Universidade de Brasília
Corpos Informáticos
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Arte não cabe em caixinhas, não cabe em galerias, não cabe em prêmios nem em editais. Arte é reflexão, inflexão, proposição e até despacho. Ela escoa, não se fixa nas paredes. Não tem moldura nem prego que a segure. A moldura é dura, mas também é doce e obedece, chiclete. O prego fere e deixa marcas na parede, mas não nos corpos e suas mentes.
Os espaços institucionalizados de e para a arte são como molduras, prendem e separam dos ventos que rondam. O que está separado fica parado no prato servido. Os olhos comem, mas não ousam cheirar ou se debruçar. Os olhos só veem. E como ver se tornou tudo em nossa sociedade, inclusive se bastando a si mesmo, muitos creem que ver basta. Estes compram revistas de mulheres nuas e se satisfazem crendo possuí-las. Também compram carros só por que veem com músicas e mulheres invisíveis; passam batom usando o celular como espelho; se penteiam nos elevadores crendo fazer diferença este ou aquele fio de cabelo para o lado de lá.
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Saltos ornamentais. Pintura e detalhe de moldura (fita crepe diretamente sobre parede e nanquin).
Camila Soato. 78/57 cm. 2011.
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Arte que compõe com espaços institucionalizados é boazinha, comportada e obediente. Os pais gostam e até mimam, levam para passear em bienais internacionais e deixam dormir mais tarde, pois já terminaram suas tarefas da escola. Aprenderam que um mais um são dois e que exceção se escreve com “xc”e “’ç” e deve ser evitada. A exceção incomoda exatamente por esta esdrúxula ortografia.
E arte que saiu da galeria? Fugiu de casa, deixou a escola, foi aprender na rua que um mais um pode ser Chernobyl ou Fukushima. Pode ficar vazando por anos sem que ninguém comente, as autoridades se calem e população morra vítima de radiação surda e truculenta. Descobriu que exceção, exatamente por ser exceção pode ser excessão, exceção, e-sessão, ex-cessão, esse são, aquele doente, dente sem canal, canal sem água, água reconstituída e memória de poluição. Você acredita em homeopatia?
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Espetáculo Mar(ia-sem-ver)gonha. Trecho Mulher Invisível.
Corpos Informáticos, Brasília, 2009. Diego Azambuja e iterator.
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Arte que saiu da galeria, deixou os museus, não é nova. Data dos loucos, machistas e progressistas futuristas que queriam “destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo tipo, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária” e “exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.” (MARINETTI, 1909)
Muitos os seguiram nos rastros de destruição deixados pela 1ª Guerra, dita, Mundial. Os dadaístas nos interessam mais.
O cubismo constrói uma catedral de patê de fígado artístico. Que faz DADA?
O expressionismo envenena as sardinhas artísticas. Que faz DADA?
O situacionismo está ainda na sua primeira comunhão artística. Que faz DADA?
O futurismo quer subir em um lirismo + elevador artístico. Que faz DADA?
[...]
Que faz DADA?
[...]
Dada é a amargura que abre seu riso sobre tudo que foi feito construído consagrado esquecido na nossa linguagem no nosso cérebro em nossos hábitos. Ele vos diz: Eis a Humanidade e as belas besteiras que a tornaram feliz até a idade avançada
DADA EXISTE DESDE SEMPRE
A SANTA VIRGEM JÁ ERA DADAISTA
DADA NUNCA TEM RAZÃO
[...]
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Sim, interessa abrir o sorriso, como fizeram, também, Gilles Deleuze e Félix Guattari afirmando “Demos a ele uma forma circular, mas isto foi feito para rir.” (1995, p. 32) A forma circular também interessa, mas preferimos labirintos.
Arte que vai para a rua, se distrai e caminha como os errantes. Não tem percurso, nem roteiro. Se o tiver o perde se for aberta ao público e não só teatro. Teatro de rua é teatro, fala unidirecional, tal qual a televisão que nos deixa presos nos sofás, inertes, puro lixão onde se derramam sons e imagens que convidam apenas a ver e a se calar. Arte que fugiu de casa, deixou a escola, foi aprender na rua, aprendeu que precisa ser aberta à participação do que não mais chamaremos de público. Ela é aberta aos iteratores.
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Uma iteração abrange as atividades de desenvolvimento (de um software) que conduzem à liberação de um produto - uma versão do produto estável e executável, junto com qualquer outro elemento periférico necessário para usar esse release. Portanto, uma iteração de desenvolvimento é de certa forma uma passagem completa por todas as disciplinas: pelo menos Requisitos, Análise & Design, Implementação e Teste. É como um pequeno projeto cascata em si mesmo.
Iteração é repetição do processo, mas esta repetição é entendida como reformulação, reinvenção, reformulação. São iteratores aqueles que participam ativamente de um processo proposto, porém não tendo a priori um resultado definido, um tempo previsível de duração, um espaço fixo de realização.
Poderíamos dizer com Jacques Derrida (1972) que, uma vez que não há contexto fixo e correto ou apropriado para qualquer palavra e, portanto, nenhuma normalidade, isto é, há sempre parasitas e a possibilidade de insucesso, infelicities, um contexto normal não pode ser determinado. Logo, não há regras de atos de fala normal. Expandindo, entendemos que na arte de rua não havendo um contexto fixo e prevendo-se parasitagem, teremos sempre iteração, uma repetição sempre outra.
Daí resulta a necessidade da prática do improviso, do desvio, a abertura à participação do iterator e/ou seu silêncio. Os transeuntes se acostumaram ao silêncio. Para retirá-los deste lugar do consumidor passivo há necessidade de sinais nomadizantes. Arte de rua é sinal nomadizante.
Os sinais nomadizantes diferem dos sinais normatizantes: Pare! Entre e compre agora! Não desligue! Você não pode perder! Queremos prosseguir, não queremos entrar, detestamos comprar, alugar. Queremos pedir emprestado. Queremos desligar, mudar de canal, atravessar o canal de barco ou a nado. Queremos perder, desviar, assobiar, andar como crianças gastando os sapatos de propósito. O que há? Por do sol, cheiro de goiaba, vento e maresia. Show de jazz de graça na praça e seu olhar no meu cangote.
As cidades estão prenhas de sinais normatizantes. Onde encontrar o desvio? É preciso ir de bicicleta para encontrá-lo? De bicicleta, nas cidades brasileiras, tudo é sinal nomadizante: as calçadas estão todas furadas, os imprevistos são inúmeros, as pessoas sorriem para você, se preocupam para que não caia. Ou, vá a pé! E aí, se dê o direito de ser arte, parte, paisagem. Sim, é necessário se dar o direito de ser paisagem, dar um tempo. Como diria Bernard Stiegler: se dar tempo.
Ser instante, singular, imprevisível. Se vestir diferentemente e deixar o policial inscrever na sua multa: “roupas em desalinho”. Ser cicatriz, não de cirurgia ou tatuagem. Deixar o acaso penetrar os movimentos e permitir iteração. Inscrever a memória do tombo, dos tombos. Escrever o tombo da memória.
Em que se transforma o arquivo quando ele se inscreve no próprio corpo? (DERRIDA, 1990, p.8)
Performance de rua inscreve, escreve, escorre no corpo da cidade para aí deixar sua cicatriz. Sinal nomadizante que torna possível uma dimensão poética. Cesura, ruptura, debate. Pensamos no espetáculo do Grupo Teatro que Roda, Das saborosas aventuras de Dom Quixote de La Mancha e seu fiel escudeiro Sancho Pança, dirigido por André Carrera, apresentada no Festival Internacional de Teatro de Rio Preto, 2009. A população discutia vivamente e até ficou com medo da polícia quando o muito falso carro de polícia prendeu Dom Quixote e o levou algemado: “Ela só estava fazendo teatro”, diziam em defesa de Dom Quixote, misturando ficção e realidade.
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Pensamos também, naturalmente, no espetáculo Mar(ia-sem-ver)gonha, do Grupo Corpos Informáticos, apresentado em Brasília (rua: Museu da República, Rodoviária do Plano Piloto e Feira da Ceilândia e SESC Garagem), Goiânia (Parque Vaca Brava e Praça do Sol).
torna-se difícil enquadrar Mar(ia-sem-ver)gonha em alguma categoria das artes cênicas, mesmo que ela tenha tomado o palco como espaço in situ. Performance demarcada? Peça teatral sem enredo, sem script? Um retorno aos happenings de Allan Kaprow? Homenagem aos brincantes populares, alegres personagens das ruas do Brasil? Mar(ia-sem-ver)gonha se esquiva de definições. É flor, é rizoma, frágil e forte, criança e intelectual. Não atrai abelhas, e sim uma mosca. [...]
Os pedestres estranhavam, procuravam entender. Perguntavam o que significava, se era um culto, uma seita, um protesto. Alguns foram picados pela mosca e a aproveitaram, sem amarras. (TINOCO, 2011, p. 99)
Espetáculo Mar(ia-sem-ver)gonha.
Corpos Informáticos, Goiânia. Praça do Sol, 2010.
Para ser verdadeiramente arte ex situ, fora dos espaços institucionalizados, a brincadeira, a performance, não deve nem ser anunciada como arte. Quando se declara algo obra de arte, o espectador é motivado a colocar o objeto artístico em uma classificação inibidora ligada à arte dos museus, elitizada, fria e ar condicionado. “Favor não tocar.” Em vez da redoma simbólica criada pela pura afirmação de que o que se tem é arte, o Corpos Informáticos chama para o jogo. O jogo inverte a institucionalização, questiona o mercado de arte, dilui a posição enrijecida de esteticistas, críticos e historiadores.
[...] as pessoas vivem uma grande miséria simbólica: elas não têm mais experiência estética. A estética se tornou o braço armado do condicionamento do consumo, [...] incompatível com a experiência do sensível. (STIEGLER, 2007, pp. 35 e 36)
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A arte é feita de membranas mais ou menos dispersas, retalhos e costuras. Corpos Informáticos se (in)dispõe no trânsito dos fluidos que vazam pelos pontos não suturados dos processos deformantes irremediáveis e isto em movimentos aleatórios gerados por forças intermoleculares, por vezes insignificantes, infidelidade. A infidelidade da Santa virgem.
O que dura é duro, dura no tempo como afetação, marca nomadizante capaz de sopro, grito. O duro clama pelo tato, faz abrir as membranas úmidas, absorve pelos poros, suga pelo útero. A C12H22O11 homogeneíza, destrói, prega. Balas, chicletes e pirulitos para o desejo forjado. Guerra contra a pamonha, o cuscuz, o biscoito amor-perfeito de Natividade (TO), o doce de jiló de Goiás, o tacacá, a pitanga e o tesão. O elemento frutose é circulação. A fruta, performance de rua, considerada elemento de resistência, dura e doce, doce e dura, faz sentir a múltipla face de guerras, dormi tranqüila e anda devagar. Mas ainda existe, como a fruta na natureza, como uma carícia cotidiana, uma cicatriz na orelha, dentro do povo, no seio das cidades?
Performance não é dança, nem teatro, arte visual ou música. Ela é fruta que escorre pelas bordas dos lábios das gentes cansadas de hábitos, de bons hábitos, cansadas de açúcar, de doce, cansadas de códigos, de bofetadas e murros, de sinais normatizantes e de semiótica. A performance, tomando emprestado termo de Michel Serres (1985), é o duro.
Para o Congresso da ANPAP de 2009, escrevi com Maicyra Leão, Marta Mencarini e Larissa Ferreira sobre a arte contemporânea como traição:
A arte contemporânea que não consegue ser conceituada por teóricos, críticos, historiadores da arte, aquela que é heterogênea, múltipla, diversa, dispersa, que foge das regras, normas e bordas, pode ser fidelidade às tendências, às instituições legitimadoras, fidelidade ao mercado, enfim, uma fidelidade capitalista. Pode também ser traição. E é esta arte que nos interessa, isto é, a arte contemporânea como traição. _ Tragam suas traíras!
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A obra aberta (ECO, 2008) é obra-traição que deseja ser des-coberta. A relação com o público é de revelação, sujeitos fruem desvelando algum sentido (dado pelos sentidos e pelo conhecimento). Mas o sentido estará sempre encoberto, ainda que algum véu tenha sido retirado. A traição na arte contemporânea carrega a multiplicidade (alguns dirão sígnica e outros dirão cínica) que se presentifica em possibilidades heterogêneas, caminhos divergentes. Possibilidades que são descobertas quando se encobrem outras em que, por mais nua que seja a suspeita da verdade, haverá sempre rastros de outras traições camufladas. Signicamente e cinicamente, a arte contemporânea trai o público, confunde, para que o segredo permaneça.
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Hoje, o Corpos Informáticos incluiu a (re)flexão fuleira. A fuleragem (sic) mente, engana e trai.
Arte e principalmente performance, e performance com tecnologia, trata, maltrata e distrai e destrói a tecnologia. Isto é, usa-a no sentido inverso de sua positividade técnica. Infidelidade. E a primeira técnica traída é a linguagem, aquela vazia, repetida, cheia de palavras engessadas que repetem e se repetem indefinidamente, perdendo o sentido e principalmente os sentidos, os 11 sentidos e o sentido.
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Performance: grito infiel expelido direto das vísceras para o oco do espaço, capaz de viagem no tempo. Encontrar o espaço da infidelidade exige um se sentir não turista, não olhar, penetrar, não chupar chiclete, morder a fruta toda e deixar as sementes pularem para os buracos de vazamento da cidade.
Hoje em dia, a ideologia se revelou pura utopia. Aliás, a ideia é mesmo da ordem da ideia e lá permanece, se não se vincula com a vida desviada da linguagem morta, aquela da ideologia, envolta em seriedade e drama.
A arte dita politicamente correta não é de fato política, pois a verdadeira política não tem objeto. É arte? E a arte tem objeto? As obras autobiográficas, as montanhas de autorretratos atendem a um discurso freudiano raso, pouco, velho. Diremos mesmo arcaico. O outro do arcaico é a carícia, sendo ambos o mesmo, isto é, apenas letras que insistem em brincar de jogo das cadeiras. Há ainda o craiaco, a acírica, o cacairi e a traíra.
Traíra: (var. de taraíra tupi, tare’ira; outras var.: taraíra, tarira, peixe teleósteo da família dos caracídeos). Seus dentes são muito cortantes, é carnívoro, considerado um dos maiores inimigos da piscicultura. bras. chulo; O pênis.
O Grupo Corpos Informáticos pesquisa a capivara, se interessa pela ornicofagia efetuada em hordas, joga guileta, baleba, bilosca, biloca, bila, birosca, bolita, bugalho, búraca, búrica, bute, cabiçulinha, clica, firo, guelas, peteca, pirosca, ximbra, filistrinho, boleba, bolega ou bola-de-gude, pula corda e pensa os gases, ou melhor, a possibilidade de uma eletricidade gasosa. O te-ato do Oficina Uzyna Uzona quer antropofagia e o bárbaro tecnologizado eletro-candomblaico. Ronald Duarte, Luiz Andrade, Alexandre Vogler, Simone Michelin, Romano e outros artistas defumam as cidades a partir de um caminhão com toneladas de incenso ou botam fogo nos trilhos do bondinho de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. O Coletivo Filé de Peixe vende DVDs piratas do Corpos Informáticos. Rose Boaretto oferece casas aos sem teto nas cracolândias. Opavivará propõe a Moita.
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A arte não está na utopia, porque a utopia não se realiza. A arte se realiza, Zé Celso dança nu no Planalto Central. Muitos o acompanham, outros permanecem vestidos. Corpos Informáticos realiza, ele não quer atingir nada além de suas unhas defeitas. Ele não tem objeto, é pura feitura, ação mixuruca.
Com a performance tornando-se tema de exposições (Marina Abramovic no MOMA, e 100 years: a history of performance art no PS1 em Nova York simultaneamente, em 2010) e se tornando institucionalizada, sua efemeridade se submete à consagração. É necessário pensar novas infiltrações: não mais diremos que nossas performances são efêmeras, diremos que são mixurucas, deslizam vadias entre os vãos absorventes. Na seca, sopram poeira e a mosca zune. Na praia, jogam frescobol. Na rodoviária, se deitam no chão de cimento coalhado de chicletes que “ganharam o privilégio do abandono.” (Manoel de Barros) Em Goiânia, a vaca é brava para a mar(ia-sem-ver)gonha.
O Corpos Informáticos quer fazer, quer ousar, deitar-se e ouvir, pelos dedos, arte: Aidana Rico Chauvet e Ignacio Pérez Pérez, Laurie Anderson, Chelpa Ferro, João Matos, Lucio Agra, Maicyra Leão, Zmário. Equilibramo-nos no meio dos buracos do asfalto, plantamos árvores e é preciso regá-las, adubá-las, mas também podá-las, cheirá-las e equilibrá-las, deixá-las sentir tesão. Como se configura o tesão das pitangueiras?
A arte, a nossa, não tem objeto e mentimos muito, enganamos. A política não tem objeto. A performance não tem objeto. A cultura tem objeto, inclusive a cultura imaterial. E faz dela o que bem sabe fazer a sociedade hiperindustrial: consumo, com-sumo, com ela sumo; consome, com-some, com tudo some. E eis os lixões, escondidos em cima das camadas de famintos, fedidos e violentos, anímicos, porque fora da linguagem, pura desordem, talvez arte e muita fuleragem (sic). A Santa Virgem já era pura fuleragem.
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Referências
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Mil Platôs. São Paulo: editora 34, 1995.
DERRIDA. Jacques. Limited Inc. Paris : Galilée, 1990.
DERRIDA. Jacques. Marge, de la philosophies. Paris: Minuit, 1972.
FERREIRA, Larissa ; LEÃO, Maicyra; MEDEIROS, Maria Beatriz ; MENCARINI, Marta. A arte contemporânea como traição. Ou tragam suas traíras! In Anais do 18º Congresso da ANPAP. Salvador, 2009. Disponível em www.anpap.org.br/anais/2009/pdf/cpa/maria_beatriz_de_medeiros.pdf
POUPARD-LIEUSSOU & SANOUILLET, M (org.). Documents DADA. Paris / Genebra: Weber & Jacques Lecat, 1974.
TINOCO, Bianca. A vida e a vida de Mar(ia-sem-ver)gonha. In Corpos Informáticos. Cidade, corpo, política. Aquino, Fernando & Medeiros, Maria beatriz (org.). Brasília: editora do PPG-Arte/UnB, 2011.
SERRES, Michel. Os cinco sentidos. Paris: Grasset, 1985.
STIEGLER, Bernard. Reflexões (não)contemporâneas. Tradução e organização Maria Beatriz de Medeiros. Chapecó (SC): Argos, 2007.
Komboio. Performance e composição urbana.
Corpos informáticos. Exposição Aberto Brasília, CCBB, 2011.
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