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Espetáculo Mar(ia-sem-ver)gonha por Corpos Informáticos.
http://www.anpap.org.br/anais/2011/pdf/cpa/diego_azambuja.pdf
Diego Azambuja. Corpos Informáticos
Fernando Aquino. Corpos Informáticos
Márcio H. Mota. Corpos Informáticos
Maria Beatriz de Medeiros. Corpos Informáticos/UnB
RESUMO O presente texto testa, nariz e orelhas. O presente texto atesta, tempera e por vezes incendeia algumas ações, talvez arte, talvez parte, um pulo de corda, um abraço. Neste ínterim, tanto nós – pedaço de mundo, tanto mundo, caquinho em todos –, se pensa em movimento, corpo inteiro e seus 11 sentidos.
Palavras-chave: arte, onze mãos, cidade.
SOMMAIRE Ce texte front, nez et oreilles. Ce texte témoigne, tempère et parfois enflamme certaines actions, peut-être art, peut-être partie, un saut de corde, un câlin. Pendant ce temps aussibien nous – morceau de monde, aussibien autant de monde, une miette de tous –, se pense mouvement, corps entier et ses 11 sens.
Mots-clés : art, neuf mains, cité.
Certo dia, em uma cidade planejada, um bando (conjunto de bandidos que se creem artistas) resolveu se divertir, chamar atenção para a distração. Festejou nomeando estes momentos ‘reuniões’, pois era preciso assegurar o mingau ralo da galera, mas, sobretudo, por que era necessário viajar. Sim, comer e viajar, as quatro melhores coisas da vida. Nestas reuniões, tomou cervejas inexistentes que, no entanto, enchiam seus copos, e planejou pequenos saltos, sobressaltos, verdadeiros assaltos à cotidianidade hiperindustrial. Aí, cavou buracos e escondeu segredos, parafernálias indefesas que tinham alcançado o privilégio do abandono. Jogou pique-bandeira sob aquela outra bandeira e pensou fazer arte, desastre, abate de neurose, ceifagem de paranóia. Inclusive inventou que era pronóico.
O bando também conversava com os mortos. Essas conversas eram unilaterais, isto é, os mortos estavam mortos. Assim descobriu, sem destampar a tumba, um português judeu entalhando óculos em Amsterdã, que escreve em latindo e assim escapa de perseguições. Esse sujeito fala de Ética e se permite confundir, difundir, mesclar e mastigar modos de percepção e gêneros de conhecimento. Então o bando deixou escoar a composição urbana que põe, decompõe, repõe a vida nula em movimento corpo-mente-valente contra o vício incutido, minando as veias flácidas do pouco que resto. Que resta no espaço compartilhado da grama e minhocas, copos abandonados, capa de drops, alguma moeda, lacraias. Bodes não há: parafernálias acrescentam modos de percepção e gêneros de conhecimento – antena, olho, mola, teclado, fio, tomada. Ou seriam modos de conhecimento e gêneros de percepção?
a: – Mas, conhecimento não existe.
b: – Existe sim.
a: – Não existe.
b: – Não insiste.
a: – Conhecimento também não insiste, desiste.
b: – Existe sim.
a: – Não existe.
b: – Quer ver que existe: mãe, conhecimento existe?
c: – Sim, minha filha conhecimento existe.
b: – Viu, num falei, num falei.
O bando também pegava ônibus. Todos pegávamos ônibus, nos reuníamos e isto já bastava para ser grupo, embrulho, alcateia, enxame e gangue. Então agrupamos Dionísio e chamamos a Dina na 713 Sul.
Cintas modeladoras
Dina, aquela que faz cintas modeladoras para traçar o corpo como outdoor. Aqui nos trópicos de farto calor, também tem a opção das ladeiras e dos jogos mundanos. Entre esquinas e bueiros já sentem o desvario rupestre, buscando no movimento do corpo a forma primeira do riso.
– Dina!!!
Dina pede R$ 100,00 pela importada, a outra faz cara de nove horas, bota a língua pra fora, chupa o pescoço dela, leva por R$ 70,00 e as duas gozam no final.
– Vale tentar.
Trapacear como carícia faz parte do blefe, mas também aproxima os que gostam do jogo e suas válvulas de segredos e secreções. Com a carne comprimida, devem ser mais difíceis movimentos rápidos. O instinto também se comprime. Mas não me importa se é cintinha ou se cortam as mãos para meter o braço todo. Estamos abertos para novos jogos, jogo sem identidade, jogo que se faz no ato, cutucando o outro e fazendo cara de sacana.
O primitivo jogo de roçar nas coisas para provocar efeito sem causa e ver como elas reagem. Tem efeito sem causa? Tem efeito sem causa quando roço na ponta do sofá e de repente siririca? Prossigo e orgasmo. Trata-se de efeito sem causa ou de causa causada, muito bem desejada, na hora certa, no momento exato de levantar a angústia, parar o tempo e derramar o gozo. Roçar no efeito, acariciar a causa, entrar no jogo e deixar reagir. Deixar o efeito, entrar na causa, roçar no jogo, acariciar no tesão.
Guileta, baleba, bilosca, biloca, bila, birosca, bolita, bugalho, búraca, búrica, bute, cabiçulinha, clica, firo, guelas, peteca, pirosca, ximbra, filistrinho, boleba, bolega ou bola-de-gude.
Jogo sem identidade, ramificando-se na lógica abstrata do presente, multiplicando-se e contaminando o centro do estômago, fazendo suar a pele a ponto de dar vontade de estar nu, quieto, sentindo o cheiro do vento, olhando ao redor, outros corpos exaustos. Depois do riso, a Baré gelada para os garotos. Para a alma crescida, banho de cevada.
– Dina, essa cinta não tá funcionando, devolve meu dinheiro. Porra!
Dina responde: – Vai tomar no cu! É cinta, segura um pouco, mas não faz milagre, porra! Dinheiro é o caralho, vê se tira o cu da cama e trata de rebolar essa coisa.
Chegamos ao ponto bom da ideia, a possibilidade de ser coisa alguma, ser coisa, ser coiso. Minha alma é uma coisa. Minha tara é uma coisa. Esse aí é uma coisa. Ia-sem-ver tateando as coisas. Coisa é morada do segredo que guarda a possibilidade de ser qualquer.
Dina mora na 713, transa com 7, aposta 15 no 8, ganha 6, devolve 4, empresta 5 e vende cintas modeladoras. Coisa de Dina acreditar no 8. Quando me esqueço das coisas, removo o significado inicial, vermelho-delete, sigo para o preto das tinteiras, desenho, acho outro, represento a nova forma, me lembro do sobrenome, sobreponho ao esquecido, perco o senso, canto.
Sinto como as coisas podem ser um jogo de perder o medo e misturar-se à terra, ao asfalto, ao couro do inimigo, ao bafo das torcidas. Perder o medo, cintilando em ignorância e raciocínio, fazer carne moída no asfalto, fazer alongamento no meio da rua, fraturar as estruturas.
A percepção da orquestra contemporânea é encosta – modos de percepção se multiplicam, são enceradeiras no ferro-velho –, poros da terra em transe reconstituem réguas, eixos, paisagens, significados... As paixões são efervescentes como comprimidos de vitamina C. O copo americano percebe-se pedaço do boteco, a rolha esconde o vinho, nova lógica da borbulha.
No trampolim, o homem de gravata se concentra para o salto triplo. Subir na parada de ônibus e encontrar um livro de 1957. Lê-lo e distribuir as folhas rasgadas como se o tempo fosse vento, ventando a efemeridade para torná-la fuleragem. Lá de cima, com os olhos cerrados, as fibras dilatadas, o gel no cabelo, saca o batom do bolso, passa nos lábios e salta. Um salto alto de ornamentos, livre, alongado, de um céu arco-íris até o azul da piscina.
Chega uma hora do dia em que todos temos que nos alongar. Um alongamento intenso. Alongar o tato, alongar as partes ditas mortas, qualquer coisa que esteja parada dentro. Liquefazer as certezas, imprimir outras, certezas da intuição e do plano espiritual, místico. Mas também certezas das 11 mentiras. A fulerage-m-ente. A palavra como mentira, a mentira como liberdade. Assim, ir deslizando até chegar ao nada, onde ficam somente impressões de sentidos aguçados. Escritura do vazio. Vazio dos milhões de movimentos descontínuos, tecendo uma ideia solta, alucinante, dançando no meio da boate, com luzes amarelinhas, brincando de pular corda e girar o frango no pique bandeira.
– Maria sem vergonha!
Engolindo o samba, ela grita:
– Na minha casa tem um pé de siririca.
Dançar noite adentro na boate nos deixa excitados. Continuum de movimento, corpo volátil, vibração, seguimos dançando no infinito do led, no caminho de volta pra casa. Dançar lúcido? Lúdico? São? A Festa. Espetáculo Mar(ia-sem-ver)gonha
São
...por dentro ou tem por propriedade o gosto pela dança que, alegrando os músculos, as articulações, os ossos suados, nos fazem lembrar de coisas esquecidas, dançando. Trata-se do Corpos ossificando-se com o Osso.
Há também a propriedade lúdica das coisas. O pipoqueiro distribui pipocas enquanto, no palco, todos assistem televisão. Sem televisão, veem-se radiografias no retroprojetor. Momento de respiração, pipoca rosa e inspiração, pipoca branca e expiração. Piração cansada de tanta televisão.
– Mas eram apenas videoarte.
– Videoarte também é comunicação unilateral. Silêncio daquele que só tem direito a ver, visionar e se calar.
A ingratidão do inseto
Rádio, remendo, televisão, internet, labirinto? As políticas mundiais, intermináveis labirintos, laribintos, laribirintos birutas de intenções híbridas. Conspirações e diplomacias determinadas pelo poder econômico e militar escorregam na cegueira das guerras, caminham de cara para o futuro das verticalidades, fazendo do futuro o minotauro que o espera, para matá-lo ou beijar-lhe a boca, sem sedativos. Presente.
O mundo se espreguiça e acorda a todo momento, caminha e morre, faz música e enlouquece. Na escala dos movimentos, os grandes reverberam como uma enorme vibração que comunica, impõe ou empresta algo. O Brasil acorda, acorda o estado de Goiás, acorda Brasília, todos adormecem, mas estamos todos acordados?
O labirinto não para de crescer. Decidimos que é melhor dançar e beber o mel da mosca, transitar na horizontal das coisas, caminhar pelo pequeno do dia, nas proximidades mais próximas, onde tem cachaça e vizinhança. Escapar da repetição, migrar-lhe algo de dentro.
O labirinto não se repete em muros da mesma cor e material. Faz isto para enlouquecer os indivíduos com velocidade. Ele está dentro, mas mora fora. O labirinto cresce paradoxal, incompreensível. Nele, curtas distâncias operam na confusão do mais próximo e objetivo: corpo. Céus virtuais. Janelas para funcionários-pássaros, sedentários que trabalham oito horas diárias em salas condicionadas de ar e luzes halogênicas. Morrem de depressão sem um local de voo. Isso nos faz aceitar a vida de gaiola e concomitantemente nos deixa livres e soltos, criativos e conquistadores de downloads gratuitos. Todo corpo se expande em pixel e a carne vira água parada, o mar se abre na tela, dispondo novas aventuras para o HD cefálico e o riso amarelo, enquanto, pálido, o corpo afunda.
“Se descreve o mundo tal qual é, não haverá em tuas palavras senão muitas mentiras e nenhuma verdade." (TOLSTÓI apud ROSA, 2001, 226)
Mas, quem vai preso no labirinto? Angustiado, o transeunte encontra-se debatendo pelos portões do mundo, redesenhando sua sombra com socos e pontapés nas escadas inferiores do seu esplendoroso labirinto. Aqui não há Dina a ser chamada. Um ser egocêntrico perfila como animal nas saias rodadas do destino, na futrica do escritório, na sua acédia na raquete de choque mata-moscas, na grande novidade. Inauguramos o agora. E nossas fossas, também são labirínticas?
As fossas se cavam no chão. E foi do chão, do parto e da vagina que nasceram santos, budas e cristos. Inegavelmente, algo ocorre em terras e solos sagrados pelo mundo. Sendo assim, de mentes e solos sofridos, reprimidos e enérgicos poderiam nascer seres brutos meio-homem meio-animal, averiguados na concretude, materialmente bem constituídos.
Creta existiu e existe. Sua lendária sociedade explodiu numa erupção! E o Japão? Os moradores do labirinto são seus próprios arquitetos-construtores.
No entanto...
Que o mundo árabe inteiro tenha direito a fuleragem, a maria-sem-vergonha, a ir-sem-ver! Que os véus se rasguem e as lindas muçulmanas tenham direito a orgasmos múltiplos. Mas o ocidente também tropeça... Nossas mulheres têm direito a orgasmos? Serão essas as da repressão corporal ou as do fetiche da televisão? Estaríamos livres da burca ou enfeitiçados pela liberdade? Qual liberdade? Seria liberdade o conceito ocidental de compra endiabrada para satisfazer o sexo falido? Acreditamos estar livres de véus, mas não é preciso ver os véus. Ir-sem-ver é deslocamento. Hoje, a sociedade vê demais, somente vê...
Paradoxalmente, infelizmente – se a felicidade existe –, as palavras nadam vazias num discurso pueril, numa busca idiota pelo acerto. Tom Zé diz que o funk “Tô ficando atoladinha” é uma das ondas concêntricas que a Bossa Nova desencadeou. E afirma: “O refrão de ‘Tô ficando atoladinha’ é um meta-refrão micro-tonal e poli-semiótico”.
Espetáculo Mar(ia-sem-ver)gonha. Goiânia. No meio de nossas conquistas e colonizações virtuais, um impertinente ser invade a sala. Zumzuzmzuz... para como um helicóptero na nossa frente. Encaramos a mosca. Olho no fundo dos olhos. Qual de seus olhos? Vendo o mundo em mosaico, ela é mais rápida que minha fúria submissa à televisão que irradia íons. A mosca, de olhos labirínticos, avança e lambe globos oculares nos países onde há desertos. Desconhece-se este tipo de gozo, mas os árabes praticam-no com ou sem burcas para limpar os olhos.
Curamo-nos pelo contato com a língua do inseto, suficientemente capaz de mydriasis, capaz de inflamar olhos, causar vermelhões, gotejar larvas e verdes, criar vazamentos e plantar árvores. A mosca deposita um troço na glândula lacrimal. Agora, quando choramos, algo cresce dentro e se alimenta do soro. Assim perdemos o tão famigerado privilégio da visão, miosis, vamos sem ver e disseminações.
Na mydriasis, acontecem visões confusas de dimensões fractais, nada nítido, somente a percepção das vibrações e fluxos de movimento, cores, plasmas, às vezes áureas e ectoplasmas. O olho treme, sente como se um ovo eclodisse dentro, leitosa visão, ploft, e novas mosquinhas saem dos olhos direto para o mundo. Algo de magnífico nos uniu, hoje sou dois, híbrido de sensações, homem-mosca.
Com a lambida da mosca nos olhos, o mundo está virgem novamente e é preciso penetrá-lo como uma enxerida, zunzunando um gemido qualquer de anunciação de passagem. O bando está pronto para lamber as paredes da sala, os olhos dos chefes, as bundas das secretárias e os paus dos porteiros. É decretar guerra aos que perseguem, segui-los e lamber suas línguas.
Quando mosca, o bando perde a noção de nojo e de perigo, se sente demente e lerdo – finalmente lerdo! –, calcula o espaço e as curvas. As palavras da publicidade parecem pálidas diante das asas que já não pertencem ao humano. O tempo animal é capaz de romper qualquer conceito pelo disparo dos modos de percepção. Só fuga e fogo, sem razão nem verdade. Isto, ainda que absolutamente não se tenha desejado o fogo nos galpões das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Países, estados, governadores, computadores, satélites, muitos insistem na perseguição. Televisores anunciam e proclamam nossa morte. Mas, agora, temos muitas faces, e dentro delas outras tantas. Drag queen, malabarista, hipnotizador, trans, pipoqueiro, vizinhança, fuleiro, mina de transmutação. Perfura-me e encontrarás outros escondidos dentro. Beija-me e sentirás mil línguas de répteis e serpentes. Questiona-me, e nada saberei. Somente quando calar a consciência-carne e escreverem-se corpos no cheiro do silêncio, respirando o vazio, é que beberemos o leite.
Segredos do invisível
Mulheres invisíveis acariciam e prendem com suas teias, suas tetas, cabelos de fita VHS, novelos de lã-houses, disquetes. Mulheres invisíveis caminham sobre teclados ilustres. Tudo o que serve, mas que é entendido como lixo, tudo que alcançou o privilégio do abandono, serve para a Maria-sem-vergonha. Fuleira se pretende. As cascas e os restos a interessam, como interessaram a Dina, Derrida e Manoel de Barros. Na Mar(ia-sem-ver)gonha, a Mulher Invisível é passagem obrigatória. Ela é performada pelos corpos em tato com materiais sensórios e de diversas texturas, que, no escuro, promovem sensações inusitadas.
A Mulher Invisível é promíscua e tecnológica. Mar()gonha ou coisa do tipo. Mistura tudo com tudo, de mulher-fruta a mulheres de fita banana, verde, fita crepe, durex, mulheres de plástico, petróleo, invisível mulher que ia sem ver e sem ser vista, estava, imprevisível.
– Todo concreto desmorona onde o invisível se releva.
Mar(ia-sem-ver)gonha mulher invisível | homem e menino | onde se encontra o chão? o perfume esconde o cheiro de mijo | mulher invisível riso cabe no teu ânus o esconderijo | mydriasis | mulher invencível sol | pleno de noite | ilumina pelos | derrete o concreto mantra de batom, gruta de objetos | mulher invisível clitóris cortaram teus nervos | castraram o desejo | sugaram teus seios e agora te querem assim mulher invisível | onde moras em mim? o mel da mosca | a mosca da mulher a mosca pousa na sociedade | absorvida e não consumida coiso da coisa | resíduo de existência a mulher invisível faz desejar a dividualidade
Os modos de percepção se multiplicam como enceradeiras nos ferros-velhos. No entanto, quando arde o pique-bandeira na Esplanada dos Ministérios, arte. Mas o calor e o sol escaldante, certamente previstos no Plano do plano, impedem qualquer reflexão sobre as instâncias de poder envolvidas no ato de roubar a bandeira. Estar cercado e virar vento para criar evento no colorido do grito:
– Vencemos!
Um “vencemos!” logo contradito:
– O que implica vencer?
– E o que implica vencer em um jogo de pique-bandeira?
– São territórios.
– E vencer na Amarelinha? Reuniões para discutir que jogo jogar: Go ou xadrez? Que implicações teóricas envolvem o jogo de pique-bandeira? São duas instâncias de poder em combate:
– Errado politicamente!
– Zut! Até para brincar você tem que pensar deste tanto?
– Não, para brincar penso no “como tal”. Jogar ‘como tal”.
– O “como tal” também é invisível.
Fragmentos
A mosca, lançada pelo Corpos Informáticos em março de 2009, foi o primeiro satélite proto-orgânico-artificial colorido e fluorescente. Não poluente, vivo e demente, dando voltas, revoltando, nas dobras das esquinas sujas ou arrumadinhas, hippies ou estéreis. Voluta da mosca mansa reinando na criançada. Desta vez, o bando não escolheu a tecnologia.
– Ê mosca, ê mosca! Quem não tem calcinha usa óculos escuros. Ê mosca, ê mosca! Sim, nosso mundo é contêiner!
Vagos de lembrança, repetimos. Loucos de euforia, compramos. Qual a velocidade do satélite? Ocorrem corpos assimétricos no justo? Aqui aparece um freio: o que é otimização na cultura? Na arte, sua contra-morte? Na sorte, sua contraparte? Pelos requintes do anteontem, os vereditos: por que ignorar a realidade do comício de amanhã? Todos estarão de volta nesta natureza social? Qual comediante se esconde por trás destas plataformas infantis denominadas “discursos de porta-vozes governamentais”?
Trata-se, portanto, essencialmente de um nome caracol – mais amplamente: de um nome curvo, mas doçura não deve ser confundida com o caráter sempre mais ou menos lentivo daquilo que é mole, uma vez que –bem pelo contrário, o que ele tem de perfurante e penetrante se confirma pela aproximação que é possível estabelecer entre as sílabas de que é composto e as que formam o estado civil do inseto dito ‘lacrainha’.( LEIRIS in DERRIDA, 1991, p. 14)
Compor e decompor, na terra ou no espaço sideral, é próprio de cachorros vira-lata. A decomposição compõe seus corpos. A composição que realizam elimina as pestes. Nós, artistas, ratos, urubus, vira-latas decompondo a riqueza, o status, o adidas, a nike, as olimpíadas, o corpo perfeito, o hata yoga, a meditação, deus.
Nós lagostas, onde lá deus gosta (com a colaboração de Larissa Ferreira), e camarões, comendo metais pesados dos fundos dos oceanos – infelizmente –, ainda deixamos que ricos sobre-vivam. O que fazem é sobrevida: o carinho é massagem, a comida conta pontos, a roupa é imagem, o carro é caro, marca. Talvez concluir seja assim mesmo, se conclusão houver, nos labirintos de nossas 11 mãos. Assim, na contramão, o bando evita a blitz que tenta organizar os pensamentos e as percepções neste fevereiro chuvoso de 2011, às vésperas do carnaval.
Referências bibliográficas
Deleuze, Gilles. Diferença e repetição. São Paulo: Graal, 2009.LEIRIS, Michel. “Tímpano”. In DERRIDA, Jacques. As margens da filosofia. Campinas: Papirus, 1991. P. 7 a 19.
ROSA, Guimarães. Tutaméia (Terceiras Estórias). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Diego Azambuja. Corpos Informáticos. Ator, performer, Mestrando em Artes/UnB. Bacharel em Artes Cênicas, UnB.
Fernando Aquino. Corpos Informáticos. Artista Visual. Bacharel e Licenciado em Artes Visuais, UnB. Integra também o Grupo Tuttaméia. www.minaspadrao.wordpress.com/autor.
Márcio H. Mota. Corpos Informáticos. Artista Visual, videomaker. Bacharel e Licenciado em Artes Visuais, UnB.Integra também o Grupo Tuttaméia.
Maria Beatriz de Medeiros. Corpos Informáticos/UnB. Coordenadora PPG-Arte/UnB (2011/2012). www.corpos.blogspot.com
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